A vida nos convida — a chorar e mergulhar para poder levantar e voar.

Bru,
4 min readJan 15, 2022

--

quinta-feira, 13/01 — a lua cresce lá fora, aqui dentro mingua.

Ontem recebi uma mensagem de uma paz.ciente que estava preocupada porque sentia-se apática, queria chorar mas não conseguia. Hoje chorei por mim, por ela e por todos os que sentem o peso dos dias.

Olhei pela janela e vi a lua. O céu pintado pelo sol que se punha e eu senti que precisava estar perto das árvores. Fui até a praça ao lado de casa e durante o caminho, as lágrimas escorriam pelo meu rosto entre uma passada e outra. Inclusive percebi que a máscara não só esconde nossos sorrisos, mas também impede nosso choro de fluir.

Ao chegar sentei ao pé das árvores com meus pés descalços. Tirei a máscara e chorei. Apoiei minhas mãos na grama, me curvei, como criança que desaba e desabafa no colo da mãe, desabei no colo da mãe terra. Algumas pessoas passeavam com seus cachorros enquanto outras faziam suas práticas de caminhada e corrida e assim passavam por mim. Eu não sentia vergonha, sabia que elas estavam ali, mas não me importava o que poderiam pensar. Engraçado perceber como a vulnerabilidade nos fortalece até quando podemos parecer tolos ao chorar em praça pública.

A lua entre os galhos das árvores, que balançavam fortemente com o vento, era testemunha e companhia distante — como a avó que vê a neta chorar no colo da mãe, mas não se aproxima. De longe ela observa e abençoa o ritual de entrega entre as duas. De longe admira a continuação da vida e prepara comida, agulha e linha para integrar essa tessitura.

Uma palavra ecoava na minha cabeça enquanto eu chorava em Balásana, a postura da criança:

Surrender.

Em inglês porque tem palavras que falam mais por energia do que por tradução.

Surrender: é render-se de forma tão profunda que não sobram forças para manter-se em pé. Você mergulha para dentro de si e ajoelha-se. Como quem humildemente agradece, mas também pede piedade.

Não piedade porque pecou, mas porque finalmente compreendeu que brigar com a vida é inútil, que carregar a dor, a raiva, a frustração, o medo, a depressão e o julgamento é lutar contra si mesmo em uma batalha tola em que mesmo ganhando você (se) perde. Justamente ali, naquele ato de tanta fragilidade e vulnerabilidade, de tanta força e sutileza, eu me rendi ao tecer da vida.

Naquele momento, com as mãos agarradas na grama, percebi que meu choro não era só meu. Meu choro também era o choro da terra, que também está se descobrindo através dos seres que nela habitam. Que sente o que eu sinto. Que chora quando eu choro. Que sente dor quando eu sinto e ainda assim me acolhe. Porque quando eu rio, ela também ri e quando eu me realizo, ela também está se realizando. Como uma grande mãe, que chora junto dos seus filhos, que está na primeira fila a aplaudir suas conquistas e que ensina, através do exemplo, que o movimento é contínuo e íntegro, que assim como ela nunca para, seus filhos também estão em constante evolução.

Então chorei por mim e todos que estão cansados de tanto sentir ou de tanto guardar e não desaguar. Chorei, transbordei, me rendi e agradeci.

Porque chorar é sentir e sentir é o que nos faz humanos. A apatia é uma ilusão na qual acreditamos quando passamos a achar que sentir é perigoso, que chorar é ser frágil e confiar é ser tolo.

Mas, a todos que esperam por uma grande mudança, eu digo:

para poder mudar, comece por lembrar que sentir é o super-poder do ser.

Inclusive, se recebêssemos uma carta-convite da lua, da terra e dessa vênus retrógrada no inicio de 2022, ao abrirmos o envelope encontraríamos a seguinte frase:

A mudança só será possível quando nos rendermos aos nossos sentimentos mais profundos.

Em seguida, encontraríamos as direções para recalcular nossa rota: voltar a casa de nossa avó, onde Vênus irá nos mostrar, em um intenso mergulho no rio ao lado da casa, as dores que estávamos guardando no fundo de nossas almas. Depois seremos acolhidas por nossa mãe e após chorarmos no seu colo, secaremos as lagrimas ao sentir o cheiro da comida que nossa avó preparava na cozinha. A tarde sentaremos na grama, com um chá e biscoitos, enquanto nossas anciãs nos ensinam a bordar, costurar e criar novos pontos e laços em uma obra ainda desconhecida.

Ao fim do dia, poderemos seguir em frente nutridas e fortalecidas. Mas antes de partir, receberemos um presente e quando nos despedirmos, na porta desse que um dia foi nosso lar, ouviremos das mulheres que nos deram a vida:

Voa, minha filha! Pois da sua renda costuramos suas asas e do nosso ventre ancoramos suas raízes para que você nunca esqueça de onde saiu. Agora voe em direção a sua nova casa, agora voe e lembre-se que junto ao seu peito sempre carregará o mapa da sua jornada e a sua própria morada.🦋

--

--

Bru,

la bruja — mujer medicina — latina || oferecendo vivências terapêuticas n' @acasadabrunanomundo